Há momentos na vida que nos confrontam com escolhas súbitas, decisões que emergem do desespero, não da valentia. O fim do meu relacionamento de quase 20 anos não foi marcado por um grito de liberdade, mas pelo silêncio de um esgotamento profundo, um cansaço que permeava o minha alma, mesmo sem eu compreender plenamente a natureza opressiva daquela convivência. Foi uma necessidade visceral de respirar, de encontrar espaço para mim mesmo, que me impeliu a sair. E nesse ato de fuga, encontrei-me subitamente desligado da rede de pessoas que por quase vinte anos chamei de família e amigos.
Por quase duas décadas, essas pessoas foram meu porto seguro, meu círculo de celebração e apoio. Agora, enfrento o eco de suas ausências, uma quietude que ressoa com a força de uma tempestade silenciosa, que passa destruindo tudo que encontra em seu caminho.
De vez em quando eu até tento reatar os laços através de memórias compartilhadas, fotos guardadas de momentos incríveis que passei com essas pessoas. Infelizmente, o que eu encontro frequentemente é um silêncio que ressoa com a força dentro de mim que pesa, que doi, que machuca. E nesse silêncio, a dúvida se infiltra: teria sido eu o artífice de minha própria solidão? A mente, em sua busca por respostas, muitas vezes se perde em um labirinto de possibilidades e suposições.
Observar a vida seguir em frente para essas pessoas, enquanto eu permaneço à margem, é um lembrete da impermanência daquelas relações que um dia tive como fortes e estáveis. A separação, apesar de ter ocorrido há anos, ainda traz consigo uma dor que parece tão fresca quanto no dia em que tudo mudou.
Mas dentro dessa dor, procuro por um fio de esperança e cura. Aceito que esses sentimentos, embora avassaladores, são transitórios. Eles tem sido os companheiros inesperados de uma jornada que estou trilhando dia após dia.
Busco conexão, mesmo que seja através de um “olá” hesitante em uma mensagem de texto, um lembrete de que ainda há vida além da minha dor. E, em momentos de introspecção, permito que meus pensamentos se derramem no papel, ou na tela do computador, como estou fazendo agora. Cada palavra um passo em direção à libertação.
Reconheço que a cura não segue um caminho reto e previsível. Cada passo adiante, por mais doloroso que seja, é parte de uma marcha rumo a um futuro onde a dor é uma lembrança distante, não uma realidade presente. E enquanto percorro esse caminho, vejo a terapia como um guia, iluminando os contornos escuros da recuperação emocional.
Para aqueles que encontram ecos de suas próprias lutas nestas palavras, saibam que a solidão da jornada é uma ilusão. Nossas histórias podem ser singulares, mas o caminho da cura é um terreno compartilhado. Vamos caminhar juntos.