Desde muito cedo, percebi que a música tem o poder de marcar momentos importantes da minha vida. Cada canção que ouço é como uma página do meu diário pessoal, repleta de memórias e emoções que me levam de volta à minha adolescência. Isso sempre me fascinou, cada faixa em minha trilha sonora pessoal representa uma parte da minha jornada.
A música é uma linguagem universal que transcende o tempo e o espaço, e essa é uma das razões pelas quais a valorizo tanto, tem o dom de tocar nossas almas e criar vínculos profundos com nossas experiências.
Acabei de ler a Biografia de uma das bandas que marcou alguns desses momentos: The Smiths: A Light That Never Goes Out – A Biografia. O conjunto inglês deixou uma marca indelével na minha história, e cada vez que ouço uma de suas canções, sou transportado de volta a momentos especiais, alguns alegres e tantos outros tristes. Suas canções não apenas tocaram minha alma, mas também se tornaram parte integrante das minhas lembranças.
Letras polêmicas
The Smiths, banda britânica dos anos 80, conquistou meu coração com sua música única e letras introspectivas – a bem da verdade, na época eu não compreendia as letras, pois ainda não falava inglês de forma fluente. Depois que entendi o significado das letras fiquei entre o assustado e o fascinado, pois como coisas tão horríveis podiam soar tão belas. Veja só, por exemplo, um trecho de “There is a Light That Never Goes Out” de 1986:
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Is such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure, the privilege is mine
E se um ônibus de dois andares
Se chocar conosco
Morrer ao seu lado
é uma forma celestial de morrer
E se um caminhão de dez toneladas
Matar a nós dois
Morrer ao seu lado
Bem, o prazer, o privilégio é todo meu
Soava tão melancólico, tão lindo, que eu não tinha necessidade alguma de saber a tradução, ainda bem, pois hoje sei que cabeça de adolescente é um prato cheio para ideias malucas – leia-se suicidas, afinal de contas é um período de transição em que a gente frequentemente experimenta uma ampla gama de emoções e desafios emocionais. Muitas vezes, essas emoções intensas podem levantar questões difíceis e até mesmo ideias perturbadoras.
Abrindo um pequeno parentes, eu estava sofrendo por perceber que era (sou) gay, numa época em que a TV aberta alardeava a morte de gays, aos milhares, em decorrência da infecção pelo HIV (AIDS), mostrava o que as pessoas na rua pensavam sobre nós, como numa reportagem do Fantástico dos anos 80 em que as pessoas falavam sem pudor algum que homossexuais deviam ser mortos. Era problema naquela época, era problema há 15 anos (https://www.youtube.com/watch?v=6PRWvfR-CIk) e – infelizmente – é problema ainda hoje (https://www.youtube.com/watch?v=K-kqSxYhPIg).
Queer As folk
Voltando, conheci a banda através do meu amigo de infância, o querido e saudoso Reginaldo. Ele era o DJ e também aglutinador da turma. A gente se encontrava na casa dele nas tardes de domingo para ouvir The Smiths e também outras bandas de suscesso do início da década de 80, como o The Cure, A-ha, Tears For Fears, Depeche Mode, Titãs, Legião Urbana, The B 52s, Afrika Bambaata, Siouxie and The Banshees e tantas outras. Boa parte do meu gosto musical foi formada ali.
Ler o livro me levou novamente para aqueles momentos de pura diversão e descoberta (e alguma – muita – melancolia). Entender como algumas canções foram compostas colocou um verniz a mais nessas lembranças. Descobrir, por exemplo, como surgiu a música “How Soon Is Now?” foi fascinante, ainda mais pela forma inesquecível como a ouvi pela primeira vez.
Apesar de ter sido lançada em 1984, só a conheci em 2001, durante uma apresentação privada do piloto da série “Queer as Folk” (em portugês o título ficou “Os Assumidos” – pra quê?), na casa de um amigo, o Kiko. O episódio terminou com ela, e a combinação da cena, da canção e o momento que eu vivia deixou uma marca profunda em mim. A partir desse momento, ela se tornou um lembrete constante de um momento muito especial.
O poder da música
A música tem esse incrível poder de costurar nossas memórias num tecido rico de emoções e momentos. Através das notas e das letras, viajamos no tempo, revisitando experiências e sentimentos que nos marcaram profundamente. É o que acontece cada vez que ouço uma faixa do The Smiths e, sem dúvida, foi o que aconteceu durante a leitura dessa biografia, além de descobrir outras músicas da banda, fui transportado para aquelas tardes de domingo que moldaram meus gostos musicais e também me trouxeram alguma alegria.
O The Smiths, com sua sonoridade única e letras poéticas, desempenhou um papel central nesse cenário musical. Mesmo que na época eu não compreendesse completamente suas letras, suas melodias e atmosfera cativante eram o suficiente para encantar minha alma.
A música é uma parte essencial da nossa vida, uma trilha sonora que continuamos a construir a cada dia. À medida que novas canções entram em nossas vidas, elas se misturam com as antigas, formando um mosaico de emoções e memórias que nos lembram quem somos e de onde viemos.
Portanto, deixo com vocês a pergunta: qual é a música que marca um momento especial na sua vida? O que ela representa para você? Convido todos a compartilharem suas histórias musicais nos comentários e a continuarem a trilhar o caminho único da música que cada um de nós carrega consigo.
Que a música continue a nos inspirar, nos emocionar e nos conectar uns com os outros, porque, como diz a famosa frase, “a música é a linguagem das emoções.
Se você gosta dos The Smiths, ou de música de uma forma geral, recomendo a leitura.
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